segunda-feira, 22 de agosto de 2011

AINEs - Vantagens e Riscos


Consumidos de forma irresponsável,os anti-inflamatórios não esteroides podem causar reações adversas

Fonte de inúmeros debates, os Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINEs) estão entre os medicamentos mais consumidos em todo o mundo. Usados para combater da dorzinha incômoda nas costas às topadas no dedão, eles estão presentes no dia a dia de todos nós. Prova disso é o grande número de pessoas que carrega consigo um desses remédios e o distribui para colegas e familiares como se fosse uma solução milagrosa para todos os problemas.

São comprimidos, cremes, pomadas, gotas e injeções que prometem alívio imediato. No entanto, o uso indiscriminado de fármacos aparentemente inocentes, como a popular Aspirina, pode ter consequências trágicas. “Os AINEs surgiram em 1897, e fizeram uma revolução no universo dos anti-inflamatórios, que na época se resumia a compostos altamente tóxicos do ponto de vista terapêutico”, afirma a farmacologista e pesquisadora Magna Suzana Alexandre Moreira, professora adjunta da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Segundo Magna, os AINEs destacam-se entre os grupos farmacêuticos mais utilizados na medicina por conta de sua eficácia em suprimir dor e inflamação. “São medicamentos com um amplo espectro de indicações terapêuticas, entre elas analgesia, anti-inflamação, antipirese e até mesmo profilaxia contra doenças cardiovasculares.” Ainda de acordo com a professora, publicações científicas recentes sugerem que a família dos AINEs poderia ser eficaz na prevenção de doenças neurológicas, como o Alzheimer, além de constituir uma opção terapêutica para casos de câncer.

Para Daniel Feldman, professor do Departamento de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a importância dos anti-inflamatórios é indiscutível. “Eles são indispensáveis para uma série de doenças inflamatórias crônicas. O uso dos AINEs deve ser avaliado como o de qualquer outro medicamento. É preciso balancear benefícios e malefícios. O ganho de qualidade de vida para pacientes com problemas como artrite reumatoide, gota e osteoartrite é infinito.”

COXIBEs em debate
Os AINEs são agentes inibidores da ciclo-oxigenase (COX), divididos em duas classes, seletivos ou não. Os inibidores não seletivos, conhecidos como tradicionais ou convencionais, são os mais antigos da família. Estão nessa classe alguns dos medicamentos mais conhecidos pelo público em geral, entre eles a Aspirina e o Cataflam.

Aparentemente inofensivos, os AINEs tradicionais são utilizados de forma indiscriminada e sem acompanhamento médico. “O uso irracional de tais fármacos pode ocasionar diversas reações adversas. As mais comuns são alergias, problemas respiratórios, lesões do trato gastrintestinal, anormalidades da coagulação e lesões renais”, alerta a farmacêutica Aline Cavalcanti de Queiroz.

Foco das polêmicas recentes, os AINEs seletivos para a COX-2, também designados COXIBEs, entraram em evidência com o lançamento do Vioxx, em 1999. Anunciado como um dos remédios mais eficazes no tratamento da artrite, o fármaco também prometia acabar com a dor sem os efeitos colaterais dos anti-inflamatórios tradicionais, sobretudo as úlceras e os sangramentos gastrintestinais. “Eles melhoraram a tolerabilidade gástrica. Entretanto, a presença de efeitos adversos cardiovasculares reduziu o ânimo inicial relacionado ao uso desses fármacos”, afirma Magna. De fato, o entusiasmo foi interrompido de forma brusca quando o laboratório americano Merck Sharp & Dohme, fabricante do Vioxx, determinou, em 2004, a retirada completa do remédio no mercado mundial, após a divulgação de estudos que relacionaram o uso do medicamento ao aumento de riscos de infartos e derrames. “Ficou constatado que o uso crônico pode facilitar a formação de trombose. Apesar de não ser um efeito colateral comum, ele é bastante significativo, especialmente para pacientes com histórico de problemas relacionados”, afirma o cardiologista Carlos Vicente Serrano Jr., do Instituto do Coração. O especialista acredita que o controle deve vir, em primeiro lugar, do médico. “Uma avaliação criteriosa de riscos e benefícios é essencial ao receitar qualquer tipo de remédio e com os AINEs não deve ser diferente.”

A repercussão foi imediata, e não poderia ser para menos. No Brasil, o Vioxx liderava a lista dos anti-inflamatórios mais vendidos, e o episódio colocou sob suspeita todos os AINEs inibidores da COX-2, entre eles os também populares Arcoxia, Prexige e Celebra. Prova disso foi a série de medidas tomadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nos últimos anos.
Em 2008, o órgão incluiu os princípios ativos desses medicamentos na lista de substâncias sob controle especial, que passaram a ser comercializados com a retenção da receita médica. Apesar de não abranger os anti-inflamatórios como um todo, a medida foi bem recebida pelo meio médico como forma de reduzir o uso indevido desses remédios.

Em julho do mesmo ano, a ANVISA deu início a um estudo que culminou no cancelamento dos medicamentos Prexige, da Novartis, e da apresentação de 120 mg do Arcoxia, fabricado pela Merck Sharp & Dohme. As dosagens de 60 e 90 mg do Arcoxia continuam nas prateleiras, mas com a venda controlada por meio da retenção da receita médica.

Apesar das medidas tomadas pela agência, o controle ainda é insuficiente de acordo com a maioria dos profissionais da área da saúde. “Regulamentar só uma parte dos AINEs não faz sentido. Os anti-inflamatórios tradicionais também podem ter efeitos colaterais severos, alguns deles foram até mesmo associados ao maior risco de morte por eventos tromboembólicos”, afirma Aline.

Feldman acredita que o problema continua sendo o uso indiscriminado dos anti-inflamatórios. “O controle ainda é muito precário, especialmente em relação aos AINEs tradicionais. A maioria não precisa nem da receita e isso é um absurdo. A automedicação é sempre ruim, mas em relação a esses remédios é ainda mais perigosa. O maior problema é que o paciente não sabe avaliar os riscos. Falta informação.”



* Texto retirado da revista Med Atual

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